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Por que a decisão de Neymar é uma enorme lição de empreendedorismo

Como a enorme maioria das pessoas, o julguei. Eu julguei como "pouco inteligentes" Neymar Jr. e Neymar pai. Baixada a poeira, na boa, burro sou eu! Basta fazer contas para chegar a esta conclusão

Eu sou fã de Neymar, mas como amante do futebol e do Barça, a princípio me decepcionou o fato de sua transferência para o Paris Saint Germain.

Como a enorme maioria das pessoas, o julguei. Pensei que ele estava largando o maior e melhor time do mundo exclusivamente em troca dos petro-dólares do Qatar. Eu julguei como "pouco inteligentes" Neymar Jr. e Neymar pai.

Baixada a poeira, na boa, burro sou eu! Basta fazer contas para chegar a esta conclusão.

Contas de dinheiro: se o fizer, mesmo que por alto, chegar-se-á à conclusão óbvia de que, por maior que tenha sido a oferta do PSG, o dinheiro já não faz a menor diferença na vida do craque e de sua família por dezenas de gerações.

Contas de títulos: Aí a decisão passa a fazer mais sentido. "Contabilize" comigo os títulos dele no Barcelona:

  • Supercopa da Espanha: 2013
  • Troféu Joan Gamper: 2013, 2014, 2015
  • Campeonato Espanhol: 2014–15, 2015–16
  • Copa do Rei: 2014–15, 2015–16, 2016-17
  • Liga dos Campeões da UEFA: 2014–15
  • Supercopa da UEFA: 2015
  • Copa do Mundo de Clubes da FIFA: 2015
  • International Champions Cup: 2017

Um atleta é também um empreendedor. No caso, Neymar é um empreendedor de alto nível. Empreendedor de seu próprio corpo e performance. Empreendedor do seu jogo.

Não podemos jamais esquecer que por trás de um menino de 25 anos cheio de "parças" existe um gigante dos esportes. Um atleta de altíssimo nível.

Uma vez lida a lista de títulos acima, desafio o leitor a citar sequer um só título que Neymar não tenha conquistado em 4 anos de Barcelona. Nem precisa... Eu já lhe digo: Nenhum! Neymar ganhou todos!

Um esportista de alto nível não vive pelo dinheiro, ele vive pelos desafios de auto-superação. No Barcelona, para Neymar, restaria apenas um título: O de melhor jogador do mundo.

O Barcelona é um time grande, o maior deles. E uma vez renovado o contrato de Messi a mesmice imperaria no clube e em seu jeito de jogar. Seguiriam ganhando tudo e Neymar jogando pela esquerda de garçom para o craque argentino. Nada mal, não fosse Neymar um empreendedor.

Um empreendedor precisa de desafios e de problemas para resolver. Um empreendedor precisa que lhes digam que algo é impossível para que sua ambição mova o mundo para provar o contrário.

Por isso me parece óbvio que a esta altura da carreira Neymar precisava de uma nova e grande aposta. Precisava de um time "médio" para transformar em "grande" no continente europeu. Precisava dar títulos para um clube que ainda não os tivesse conquistado e fazer de seu nome o sobre-nome do clube, tipo: Barcelona-Messi.

Como bom empreendedor Neymar sabe que jamais será o melhor do mundo apenas por querer ser o melhor do mundo. Ele será o melhor do mundo por consequência do enorme desafio de transformar o PSG no maior clube da Europa. Consequência e não causa. Quem vive pela fama acaba pobre: de dinheiro ou espírito.

O fato é que nosso moleque, assim como fez com a seleção olímpica, nasceu para operar enormes transformações e calar a boca de todos. Fez isso na Vila Belmiro (Meninos da Vila) e fez isso na seleção olímpica brasileira (lembra, Galvão?). Ele não nasceu para ser peça importante de quebra cabeças, nasceu para criar o quebra cabeças.

A minha geração assistiu o Ronaldo se arrebentar umas 10 vezes, se re-inventar e voltar para ganhar tudo. Não a toa é fenômeno. Não fez isso por dinheiro, ele já não mais precisava dele, o fez pela vontade de superação e de mostrar para todos que estavam errados. E assim deu bons exemplos ao país que mais precisa deles. É um mito pelo exemplo de superação e não pelo dinheiro e fama que ganhou no processo.

Como todo bom empreendedor, Neymar sabe que quem não se re-inventa acaba morrendo. Optou por se re-inventar aos 25, no auge de sua carreira, porque sabe que se tudo der errado já terá dado certo. O dinheiro, neste caso, não é sua motivação, mas suas costas quentes, a segurança necessária para a que talvez tenha sido a maior - e melhor - decisão de sua vida.

Sempre pensei que o cabelo do Neymar é um claro reflexo de sua personalidade, Freud explica. Fotografia de um ser humano que não suporta a mesmice e que precisa o tempo todo se transformar, pessoal e profissionalmente, para sobreviver.

Isto posto, digo com certeza: Neymar é muito melhor do que Messi. Ganhando ou perdendo, melhor ou pior do mundo. Não me refiro a tecnicidade futebolística, me refiro a contínua insatisfação e a gigantesca vontade de mudança que o move.

Neymar é talvez também o maior dos empreendedores dos gramados que o futebol já viu. O suficiente para que paguem o que pagaram por ele e o suficiente para dizer que o primeiro unicórnio brasileiro já tem nome e sobrenome: Neymar Jr.